Infinitos.



artwork by Sivan Karim


Quando criança, me peguei várias vezes encarando minha imagem no espelho e questionando sobre meu corpo. Não que eu desgostasse algo em mim, crianças, normalmente, desconhecem o mau hábito de julgar nossa própria aparência.

Na verdade, eu me perguntava como aquela imensidão de pensamentos desordenados, ideias meticulosas, histórias incríveis e universos fantásticos podiam estar limitados naquele pequeno reflexo de um corpo moreno. Apenas não tinha como caber toda essa imensidão.

"Isso não sou eu" lembro de ter pensado várias vezes e repito, não estou focando no sentido estético.

Também tinha um tique que me ajudava a confirmar essa tese. Quando eu me empolgava muito, mexia as mãos involuntariamente, e, para mim, aquilo era a melhor forma de demonstrar que aquele pequeno-grande universo que me representava não tinha como caber naquele corpo, ele se esvaía pelas extremidades dos dedos em uma voltagem ilegível, era bom pra mim.

Mas, aparentemente, ruim para o resto.

Assim como astrólogos não conseguiram, até hoje, entender que no infinito não há paredes, as pessoas não aceitavam a minha ilimitação, e como qualquer coisa que o ser humano trate como fora do comum, mandavam-me parar.

Na minha cabeça de 6 anos, quando me advertiam das mãos era a mesma coisa que dizer para eu amarrar todo o pequeno-grande universo no corpo. Como definir paredes em um céu.

Por muito tempo privei o pequeno universo dentro do corpo.

 E o corpo adoeceu.

Era como manter um pinheiro em um vaso minúsculo, guardar o mar num pote ou cobrir o sol com uma flanela.

 Demorei um tempo para perceber que há pessoas que abrigam apenas um plutão, uma ursa menor, uma Terra quadrada.

Demorei o dobro do tempo pra perceber que essas mesmas pessoas estão em maioria, e por serem tantos finitos, têm o poder de fazer um sol duvidar de sua luz.

Cresci em idade e raramente me pego olhando o espelho e questionando se os meus grandes universos estavam limitados ao corpo que nasci. Passei-o a chamá-lo de Meu e a cuidá-lo, pois é por ele que meus infinitos se esvaem e destroem seus muros.

 Aprendi a juntar os cacos e a poeira desses muros que às vezes a vida tenta erguer, daí construo monumentos em forma de letras de forma que falem sobre pensamentos desordenados, ideias meticulosas , histórias incríveis e universos fantásticos.

E assim, vou sustentando todos os universos das minhas partículas que vão além das linhas que traçam meu corpo, de Dentro para o Fora.

Somos pedaços de Infinitos.

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